quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fado de um homem

Menino d'oiro no ventre,
Que do berço aspira à cama.
E na vida a vida entre,
Emanando o fulgor de uma chama,

Cujo tempo desvanece,
Assassino diário da esperança,
E corrói, e dilui, e padece
O imaculado riso d'uma criança.

E o pequeno pronto a medrar,
Conhece as sublimes cousas da Vida,
Formosas mulheres hão-de entrar,
Roubando-lhe a blandície outrora vivida

E arremedar-lhe-ão uma impetuosa alegria,
Enlaçando o seu legado, no final ignoto,
Imbuindo de caos e harmonia
O antes tão brindado poto.

Deixando-o prostrado no caixão,
Roendo-o dos pés ao pescoço,
Bichos e Homens numa eterna união,
Não poupando o mais frívolo osso.

domingo, 19 de julho de 2009

Cântico suspenso

Sempre que solto um verso espargido,
Com meus olhos garços ou minha etérea voz,
É uma melopeia declamada a sós,
Para ti, guardada num verso fingido,

- Ténue mentira que afaga o sentido
Verdadeiro, diluindo a distância entre nós -
E percorre vales e montanhas veloz,
Sem saberes que traz o Amor contido.

Mas sempre que se solta no ar
Esbate-se e morre uma vez mais
Como um sintético perfume desfeito,

Ficando um implícito cântico pairar,
Bradando, suspenso como outros tais,
Que eu canto-te, a ti, em todo meu peito!