sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Acabo de morrer

Acabo de morrer,
Com o choque impetuoso da indiferença,
E fito a ponta de um lápis a descarnar-se,
Assim como eu...
O toar do meu grito vociferante
Trepida todo meu corpo
E meu olhar langue perpetua sob ilusões paradoxais.

Sou definhado por um ser,
E extenuo-me volátil numa chama que arde,
E sem se ver,
Torna meu corpo acre...
Ah! Se ao menos eu tivesse sido comedido
De prudência, e não me tivesse dado ao arcabouço desse Deus,
Não teria morrido por um dia,
Exacerbado pelo excurso atónico
De me dar platónico
Às mãos desse Deus,
Que nem Deus se chama!

Acabo de morrer,
E fico só, como o Universo,
Clamando, imperecível,
A morte de um dia.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Amigo

Quando acordar,
Vou acordar o mundo também,
Despedir-me de todos os pedaços de algo escritos.
E pela vez primeira,
Não dialogar somente comigo próprio,
Como um doido extasiado
Pelo regaço hermético da saudade,
Mas extasiado por uma cumplicidade sublimada pela companhia de outro.

E exortam-se as águas do mar...
E exortam-se os calores de chamas,
E candíssimos suores
Evitam enleios...
Não sei quem sou,
Mas assim me chamas
De amigo...

Sou ninguém
Ou não sei quem sou,
Sou apenas
Amigo de alguém.

Sei que somente vivo,
E vou carregando a punia,
Assim como carregas a minha,
Tu, alguém...
E corro plácido neste viver
Que passa, mas fica suspenso no tempo,
E nesse confim, confio
A minha eternidade.

A minha escrita é fria, sim

A minha escrita é fria, sim.
Caso contrário, seria
Eu o frio da minha poesia,
E a sua ira vertia sobre mim,

Eu tornar-me-ia ufano
De uma cólera petulante,
E escorreria dos meus olhos, errante,
Uma lágrima que cobriria um oceano.

Eis que vou soltando em afonia
Verso a verso, e lanço-os à humanidade...
E que no furor da cidade,
Possam ser ouvidos um dia.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Etna

Viver é dar a mão
Atónica à morte ínvia.
Se assim não fosse, então
De que maneira seria

Ver voar em vão,
Numa efémera hemorragia,
A mágoa da razão
E a razão da luz do dia?

Viver é estar casado com o fado,
E eu vivo dúbio e danado
Por poder ter uma vontade!

E também eu me lançar
Nessa desmedida cratera, e clamar
No alto a minha singularidade.