terça-feira, 30 de junho de 2009

No Purgatório

Numa noite fria como esta,
Encontrei-me enquanto me perdia,
Imbuido numa dor que ainda me infesta,
E todo meu corpo tremia.

Uma dor que corroi as veias do meu sangue
Que quente, gela e padece,
Com maneiras negras me langue,
Vocifera e não desaparece.

Olhei, e uns amavam-se entre o fogo,
Outros em sangue carregavam uma cruz,
Rogando num martírio que os deixassem, mas logo
Ignorados e abandonados, ermos e nus.

E perante todo aquele sofrimento,
Preparava-me para me alevantar,
Mas caí, tórpido e desalento,
Esfolando os joelhos, e comecei a chorar...

E enquanto as minhas lágrimas escorriam
Sulfúricas, a minha dor sobejava,
E por onde passavam, estas ardiam
Um coração desmoronado que sangrava.

Então, levantei-me, abri os braços, as mãos e os olhos
Vermelhos de um choro sem desculpa,
E defrontando os mais esfíngicos escolhos
Expiei, assim, a minha culpa.

domingo, 28 de junho de 2009

Num sonho meu

Que estranho amanhecer
Se dilui no meu olhar
Alumiado pelo breu,

Quando toda vi, sem a ver,
Uma imagem erigir no ar
Fecundando um informe céu.

Trazia no olhar um primor alado,
E na boca, quentes rosas de Estio,
No peito, um corpete bordado,
Contendo seios duros do frio.

-Então falo através de cidades, calado,
E grito, mudo, ao vento que nunca me ouviu,
Clamando um nome num eco rasgado,
Que nunca chegou nem nunca partiu.

sábado, 13 de junho de 2009

O Poema

O poema nasceu
Quando o mar chorava,
E mais uma noiva escoava
Uma grossa lágrima sobre o véu.

Um homem caía,
Submerso de tristeza,
E, pousando o papel sobre a mesa,
Com uma pena lá escrevia,

(Mas sem nunca escrever nada)
Seus gritos e prantos demais
Que se alavam cada vez mais
Numa contrição tão chorada...

Mas por fim lá escreveu
O casamento que fugiu,
Numa quente noite de estio,
E o poema lá nasceu.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Mar

-"Mar, onde posso eu ficar,
Desenfade, olhando-te arfar,
Tristes ondas salgadas
Extorquidas de um rosto,
Lágrimas deitadas
Que choram de desgosto?

Eu, que aspiro colérico
Ouvir um doce silêncio,
Que trazes num grito histérico
Na saudade que negligencio"-

E esmagado por estes dois,
Entre a terra e o Mar,
Fecho os olhos, e depois,
Sem querer, deixo-me dar...
.......................... [ao Mar]

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Teu nome

Teu nome é bonito, sim,
Mas eu não o sei dizer.
Ecoa dentro de mim,
Sem nunca se esvaecer.

É água, e fogo, e ar,
Liturgia do teu ser,
Diáfano e insule mar
Que se vela sem se ver,

E se esquiva e se esconde,
Ávido, e sem maré,
Num espaço nenhum, onde
Teu nome, não sei qual é!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A meu amigo

Meu amigo está triste
Então, também eu estou.
Juntos, cuja consanguinidade existe
Neste averno que desabrochou...

- Este, que alienado insiste,
Exacerbar uma dor que arrancou
A meu amigo, e não desiste
Em gangrenar a carne que me desramou.-

Mas meu amigo, estou aqui
Vergado, contumaz, sem ceder a morte,
Que não sabe o que faço por ti!

Que não me excede em forças, porque eu,
Com tudo, possuo a ilustre sorte
De meu coração bater ao lado do teu.

domingo, 7 de junho de 2009

Escotoma

Abriram-se minhas mãos, sem esperança,
E fecharam-se meus olhos, a arder,
Porque eu não queria ver!,
Mais uma bala percorrer
Um coração de uma criança

Que, pequenina, numa imagem de dó,
Descalça, apanhava pedras do chão,
Construindo um castelo de consternação...
Um genocídio num ser só!

(Mas de longe começavam a vir
E eu não queria ver, nem sequer ouvir)

E num estoiro, trucidado,
Vi, sem querer, uma bala irromper
Um peito malfadado,
Um corpo que gemia,
Trepidado,
Sem culpa, nem liberdade
No meio da rua...
Um rosto marejado de piedade
De uma luta que não era sua...

sábado, 6 de junho de 2009

(Re) Saudações

A partir d'hoje, o ladOblíquo passará a ser escrito por um novo interprete. E a todos os que passarem por aqui, espero que apreciem e oiçam as palavras que serão escritas,

M