segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Não

Não, não, não!
Só porque não!

- Nego a coerência
Da própria negação,
Que é incoerente
O intento vernáculo
Da palavra "não" -

Mas nisto, digo:
"Não, não, não!"
Só porque NÃO!!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Encontro com o tempo

Encontro no tempo a ignóbil sabedoria
Dos que outrora viveram,
E que deixaram, na história
Legadas, palavras intemporáveis
Dignas de memória
Nos braços desse colosso vetusto.

Palavras que nadam ociosas
De língua em língua
Sob a mácula fingida
De aparentes falas alterosas,
Que sórdidas alumiam
O sentido real de uma Vida.

Encontro no tempo
Um futuro incolor
No qual a cegueria
Se guia numa visão delida
Ou num toque de torpor
Universal.

Encontro no tempo
Um perpétuo espaço tétrico
Que me leva a uma imagem abismal...
E gelo sob o ruído do trucidado toar
De um pêndulo.

- Encontro-me com o tempo

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ah, senhores grandes da guerra

Ah, senhores grandes da guerra,
Olhem! Vejam a vossa paz,
Vejam a vossa Terra!

Não virem o vosso rosto para o lado,
Ignorando o vosso chão lustroso
De corpos exangues
E de crânios desfeitos,
E o torpor da esperança dissecado,
Nesses corpos que repousam nus em ínferos leitos!

Consternam-me de vos ver fitar,
Altivos, bebendo um poto de glória,
Brindando ao vosso lugar na história...
Enquanto outros se esmaecem,
Oblívios na memória
Da futura galáxia humana,
E prostrados sob um fúnebre chão
De propensão bélica, apodrecem.

Choram uma eterna soledade,
Choram a saudade da perecida infância,
E morrem numa ténue ilusão heróica,
Espargidos nesse setal humano.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Acabo de morrer

Acabo de morrer,
Com o choque impetuoso da indiferença,
E fito a ponta de um lápis a descarnar-se,
Assim como eu...
O toar do meu grito vociferante
Trepida todo meu corpo
E meu olhar langue perpetua sob ilusões paradoxais.

Sou definhado por um ser,
E extenuo-me volátil numa chama que arde,
E sem se ver,
Torna meu corpo acre...
Ah! Se ao menos eu tivesse sido comedido
De prudência, e não me tivesse dado ao arcabouço desse Deus,
Não teria morrido por um dia,
Exacerbado pelo excurso atónico
De me dar platónico
Às mãos desse Deus,
Que nem Deus se chama!

Acabo de morrer,
E fico só, como o Universo,
Clamando, imperecível,
A morte de um dia.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Amigo

Quando acordar,
Vou acordar o mundo também,
Despedir-me de todos os pedaços de algo escritos.
E pela vez primeira,
Não dialogar somente comigo próprio,
Como um doido extasiado
Pelo regaço hermético da saudade,
Mas extasiado por uma cumplicidade sublimada pela companhia de outro.

E exortam-se as águas do mar...
E exortam-se os calores de chamas,
E candíssimos suores
Evitam enleios...
Não sei quem sou,
Mas assim me chamas
De amigo...

Sou ninguém
Ou não sei quem sou,
Sou apenas
Amigo de alguém.

Sei que somente vivo,
E vou carregando a punia,
Assim como carregas a minha,
Tu, alguém...
E corro plácido neste viver
Que passa, mas fica suspenso no tempo,
E nesse confim, confio
A minha eternidade.

A minha escrita é fria, sim

A minha escrita é fria, sim.
Caso contrário, seria
Eu o frio da minha poesia,
E a sua ira vertia sobre mim,

Eu tornar-me-ia ufano
De uma cólera petulante,
E escorreria dos meus olhos, errante,
Uma lágrima que cobriria um oceano.

Eis que vou soltando em afonia
Verso a verso, e lanço-os à humanidade...
E que no furor da cidade,
Possam ser ouvidos um dia.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Etna

Viver é dar a mão
Atónica à morte ínvia.
Se assim não fosse, então
De que maneira seria

Ver voar em vão,
Numa efémera hemorragia,
A mágoa da razão
E a razão da luz do dia?

Viver é estar casado com o fado,
E eu vivo dúbio e danado
Por poder ter uma vontade!

E também eu me lançar
Nessa desmedida cratera, e clamar
No alto a minha singularidade.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Eu não sou como esses tantos

Eu não sou como esses tantos
Que dizem que escrever é dar ênfase aos nossos ideais,
Eu não sou escritor, nem poeta,
Nem tão-pouco fecundo encantos.
Eu apenas permaneço leal às palavras e elas a mim leais.

Tenho, com as folhas de papel, uma relação...
Em que cada um de nós é uma parte,
Elas deixam-me esventrá-las com a minha voz, em vão,
E eu deixo-as exibir a minha arte.
É como um negócio, mas de amizade...
Eu orlo-me fido isíaco sob a penumbra desta união,
E ambos voamos exalados coniventes em liberdade!

Eu? Não, não sou como esses, errantes
Entre umas palavras e outras,
Eu não sou criador de espaços,
Nem de tempo, nem de instantes!
Eu devaneio sob a alçada dos meus passos
E vou escrevendo o que me vem à cabeça...
E enquanto houver folhas brancas no mundo,
Não há Deus que me impeça!

Porque eu e as folhas somos cúmplices
Das nossas próprias histórias
E desventuras,
Que as nossas glórias
São eternas e singulares loucuras!

Ah... Eu não sou como esses...
Que não sabem o que escrever,
E que em estranhas artimanhas
Vão encontrando as suas próprias falas...
Mas isto sou eu, porque não sou escritor, nem desejo ser!
E eu gosto das folhas em branco!
Para escrever as minhas palavras... (Minhas!)
Porque são feridas que estanco
De outras batalhas,
Perpetuamente petrificadas entre linhas.
E nós temos uma relação de amizade,
Eu oiço-as a elas, e elas ouvem-me a mim,
Nunca ficando em soledade...
E são as minha palavras que quero que louvem, não a mim!

Então, enquanto houver folhas em branco,
Significa que há ainda muito para dizer,
E muito para ser dito!
E enquanto eu não parar de escrever,
Haverá sempre mais para ser escrito!
Eu não me angustio com folhas em branco,
Eu amo-as, para ser franco!

Eu? Eu não sou poeta, porque poemas faço,
Eu sou só um amante de um querer escasso...
De querer escrever sobre essas linhas vazias,
E por isso escrevo todos os dias!
E é assim que tem de ser!
Até que se apague o impetuoso círio anarquista
Do meu voluptuoso escrever!
Até que o breu
Insista
Em gretar todos os pedaços de escrita
Cuja génese dou o nome de "eu".

domingo, 25 de outubro de 2009

O meu completo consciente
Constata que eu sou
O que tudo sente
E o que tudo vê,
Mas dói a Dor de sentir
Porquê? Porquê?!

Dói dizer, dói pensar,
Dói entrar
No rol do austero e clemente esquecer!
Dói viver, dói morrer,
Dói ser e não ser!
Ah! Se ao menos eu pudesse deambular alado
Sobre o complacente peito da minha mãe,
Engolfado no seu colo...
Ou repleto da inocente, imaculada,
Inconsciente e deturpadora esperança!
Ah! Se ao menos eu pudesse
Experimentar ser eterna criança!

Correr vastos campos ceifados,
Pomares ingentes...
(E que pequeninos hoje os vejo!)
Caír e levantar-me,
E a dor dos joelhos esfolados
Abismar-se com o passar leve de um terno beijo...

Se ao menos eu não tivesse que escrever
Para ver esta Dor esvaecer-se
Num mar de poemas de fel!
Ah! Tão doce é a dolente
Tinta azul com que escrevo neste papel!
Tão somente
Como a voz do meu completo consciente...
Que constata que eu sou
O que tudo vê
Mas que nada sente...
E dói a Dor de crescer
Porquê? Porquê?!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Palavra

Deixem o poeta falar
Deixem-no gritar!
Não o parem, nem lhe tirem as palavras!
Não lhas troquem,
Nem lhas escondam,
Não as pensem, como um gesto frívolo da sua voz!
Porque cada palavra que poeta traz
É uma onda mais alto que nós!
É uma asa que voa...

Deixem a escrita áfona em paz,
Deixem-na ser como ela é,
Porque ela, Só, soa!

Deixem a metáfora ser metáfora,
Deixem a palavra ser ouvida,
Porque se a metáfora não for metáfora,
A Poesia deixa de ser Lida!!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sou de natureza inconstante

Sou de natureza inconstante,
Um tanto devaneador,
Tinjo-me de um pólen queimante
Pérfido a este campo sem fulgor.

Eu? Não pertenço a este mundo rutilante
De sábios e saberes imbuídos de furor!
Não, não possuo a inquietante
Ânsia voraz de saber seja o que for...

Eu sou o escárnio e o molesto,
O alumiado e o infesto,
Sou a chama que arde insignificante...

E ardo nos braços desta chama em que me resto,
Exibo-me ágil e célere num protesto,
Contra mim, sou de natureza inconstante!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A Cidade

Na Cidade as máquinas rolam
E sobejam as pessoas,
E intoxicam, e esfolam,
E rasgam o ar com deletérios vapores,
- Brumas ébrias cinzentas -
Deixando um rasto de horrores
E as ruas petilentas...

O altivo e infernal estrépito
Dessa galáxia de máquinas,
Mergulha no meu tímpano,
E rompe-o! E rasga-o!
E teima em cercar-me
Num virulento toar
De um fragor!

Ah as máquinas!
Esburacam e trepidam a Terra!
E esta vai chorando compulsivamente de raiva abstracta
Contra multidões polifónicas!
Numa outra guerra...
Numa outra parte...
Que a Terra chora o Mar
E o Mar chora a Terra!

E eu choro também...
Ó Pai! Ó Mãe!
Derramem o furor da cidade sobre mim,
Queimem-me frenéticos ópios
E chuvas de ácidos!
Ah, levem-me, levem-me!
Soltem-me das garras da cidade
E que eu possa fruir só
Da Morte, em soledade!

domingo, 4 de outubro de 2009

Hoje sinto que voo
De mão em mão,
De vento em vento,
E que eu, ao relento,
Vou gelando no fechar dessas mãos...

E dou-me a passos de outro,
Enquanto meus
Caminham, por aí vãos.

sábado, 15 de agosto de 2009

(15 de Agosto, 2009)

Num dia cálido como este, encontro-a deitada,
Defronte a mim, rodeada de verde aos molhos,
Num pasmo deslumbrante, vem prostrada,
Soltando-o no fulgor de seus castanhos olhos.

Os seus escuros cabelos sobre a pele dourada
São de ondas trazidas num mar repleto de escolhos,
O deleite de seus braços, de orquídea desflorada,
Eis que ficam gretando, suas pernas, seu vestido de folhos.

Seu respirar é movido com o primor de seu peito,
Embebendo de ar o nosso egrégio leito,
Esboçando o solene encanto do nosso trono,

Do seu corpo guardo a flor do nosso degredo,
Dos seus lábios, a avidez imperante do seu segredo
Sob o terno e doce beijo profundo do seu sono.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O Homem de fraque

Ao nascer do Sol, o homem já vai,
Agarrando a bengala, rua abaixo, rua acima,
Exibindo o fraque que estima
E a boina que com anos não sai,

Sobre a gasta calça verde, a camisa descai,
Com facécia as pessoas mima,
Mostrando os dentes, envoltos numa rima,
Com o tinto na mão, por até vezes cai.

Os melindrosos olham-no do fundo
E mofam-no, chamando-o de vagabundo,
Invejando o seu encanto de rua,

A flor de seu fraque fala por si,
Compõe o colarinho e sem jeito sorri,
Acenando numa blandície só sua...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fado de um homem

Menino d'oiro no ventre,
Que do berço aspira à cama.
E na vida a vida entre,
Emanando o fulgor de uma chama,

Cujo tempo desvanece,
Assassino diário da esperança,
E corrói, e dilui, e padece
O imaculado riso d'uma criança.

E o pequeno pronto a medrar,
Conhece as sublimes cousas da Vida,
Formosas mulheres hão-de entrar,
Roubando-lhe a blandície outrora vivida

E arremedar-lhe-ão uma impetuosa alegria,
Enlaçando o seu legado, no final ignoto,
Imbuindo de caos e harmonia
O antes tão brindado poto.

Deixando-o prostrado no caixão,
Roendo-o dos pés ao pescoço,
Bichos e Homens numa eterna união,
Não poupando o mais frívolo osso.

domingo, 19 de julho de 2009

Cântico suspenso

Sempre que solto um verso espargido,
Com meus olhos garços ou minha etérea voz,
É uma melopeia declamada a sós,
Para ti, guardada num verso fingido,

- Ténue mentira que afaga o sentido
Verdadeiro, diluindo a distância entre nós -
E percorre vales e montanhas veloz,
Sem saberes que traz o Amor contido.

Mas sempre que se solta no ar
Esbate-se e morre uma vez mais
Como um sintético perfume desfeito,

Ficando um implícito cântico pairar,
Bradando, suspenso como outros tais,
Que eu canto-te, a ti, em todo meu peito!

terça-feira, 30 de junho de 2009

No Purgatório

Numa noite fria como esta,
Encontrei-me enquanto me perdia,
Imbuido numa dor que ainda me infesta,
E todo meu corpo tremia.

Uma dor que corroi as veias do meu sangue
Que quente, gela e padece,
Com maneiras negras me langue,
Vocifera e não desaparece.

Olhei, e uns amavam-se entre o fogo,
Outros em sangue carregavam uma cruz,
Rogando num martírio que os deixassem, mas logo
Ignorados e abandonados, ermos e nus.

E perante todo aquele sofrimento,
Preparava-me para me alevantar,
Mas caí, tórpido e desalento,
Esfolando os joelhos, e comecei a chorar...

E enquanto as minhas lágrimas escorriam
Sulfúricas, a minha dor sobejava,
E por onde passavam, estas ardiam
Um coração desmoronado que sangrava.

Então, levantei-me, abri os braços, as mãos e os olhos
Vermelhos de um choro sem desculpa,
E defrontando os mais esfíngicos escolhos
Expiei, assim, a minha culpa.

domingo, 28 de junho de 2009

Num sonho meu

Que estranho amanhecer
Se dilui no meu olhar
Alumiado pelo breu,

Quando toda vi, sem a ver,
Uma imagem erigir no ar
Fecundando um informe céu.

Trazia no olhar um primor alado,
E na boca, quentes rosas de Estio,
No peito, um corpete bordado,
Contendo seios duros do frio.

-Então falo através de cidades, calado,
E grito, mudo, ao vento que nunca me ouviu,
Clamando um nome num eco rasgado,
Que nunca chegou nem nunca partiu.

sábado, 13 de junho de 2009

O Poema

O poema nasceu
Quando o mar chorava,
E mais uma noiva escoava
Uma grossa lágrima sobre o véu.

Um homem caía,
Submerso de tristeza,
E, pousando o papel sobre a mesa,
Com uma pena lá escrevia,

(Mas sem nunca escrever nada)
Seus gritos e prantos demais
Que se alavam cada vez mais
Numa contrição tão chorada...

Mas por fim lá escreveu
O casamento que fugiu,
Numa quente noite de estio,
E o poema lá nasceu.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Mar

-"Mar, onde posso eu ficar,
Desenfade, olhando-te arfar,
Tristes ondas salgadas
Extorquidas de um rosto,
Lágrimas deitadas
Que choram de desgosto?

Eu, que aspiro colérico
Ouvir um doce silêncio,
Que trazes num grito histérico
Na saudade que negligencio"-

E esmagado por estes dois,
Entre a terra e o Mar,
Fecho os olhos, e depois,
Sem querer, deixo-me dar...
.......................... [ao Mar]

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Teu nome

Teu nome é bonito, sim,
Mas eu não o sei dizer.
Ecoa dentro de mim,
Sem nunca se esvaecer.

É água, e fogo, e ar,
Liturgia do teu ser,
Diáfano e insule mar
Que se vela sem se ver,

E se esquiva e se esconde,
Ávido, e sem maré,
Num espaço nenhum, onde
Teu nome, não sei qual é!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A meu amigo

Meu amigo está triste
Então, também eu estou.
Juntos, cuja consanguinidade existe
Neste averno que desabrochou...

- Este, que alienado insiste,
Exacerbar uma dor que arrancou
A meu amigo, e não desiste
Em gangrenar a carne que me desramou.-

Mas meu amigo, estou aqui
Vergado, contumaz, sem ceder a morte,
Que não sabe o que faço por ti!

Que não me excede em forças, porque eu,
Com tudo, possuo a ilustre sorte
De meu coração bater ao lado do teu.

domingo, 7 de junho de 2009

Escotoma

Abriram-se minhas mãos, sem esperança,
E fecharam-se meus olhos, a arder,
Porque eu não queria ver!,
Mais uma bala percorrer
Um coração de uma criança

Que, pequenina, numa imagem de dó,
Descalça, apanhava pedras do chão,
Construindo um castelo de consternação...
Um genocídio num ser só!

(Mas de longe começavam a vir
E eu não queria ver, nem sequer ouvir)

E num estoiro, trucidado,
Vi, sem querer, uma bala irromper
Um peito malfadado,
Um corpo que gemia,
Trepidado,
Sem culpa, nem liberdade
No meio da rua...
Um rosto marejado de piedade
De uma luta que não era sua...

sábado, 6 de junho de 2009

(Re) Saudações

A partir d'hoje, o ladOblíquo passará a ser escrito por um novo interprete. E a todos os que passarem por aqui, espero que apreciem e oiçam as palavras que serão escritas,

M

quinta-feira, 28 de maio de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

João Salaviza

Arena é o nome da curta metragem de 15 minutos que deu ao cinema português a Palma de Ouro do Festival de Cannes. O seu autor, João Salaviza, tem apenas 25 anos e este foi o seu primeiro trabalho profissional. Sem mais palavras, deixo-vos uma entrevista a João Salaviza com excertos da curta, para o programa Fotograma da RTPN.

CBA


sábado, 23 de maio de 2009

meu querido primo basílio

Enchi-me de coragem e pus-me a ler O Primo Basílio, do Eça. A minha única experiência com livros dele correu um pouco mal (Os Maias, no 11º. ano, quando fui obrigado a lê-lo), mas não há razão para deste vez não correr bem. Até agora estou a gostar muito. Bastam umas 20 páginas para se desenrolar, imediatamente, um drama com montes de personagens e vidas entrecruzadas, ao bom estilo do autor. E, ao contrário da grande maioria das pessoas, não acho que isto é uma seca! Acho que certos pormenores são simplesmente delicisos! A ver vamos...

CBA

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Eu sugiro Verdes Anos, de Carlos Paredes

É um facto que os conhecimentos de história da grande maioria das pessoas se pode resumir aos nomes D. Afonso Henriques e D. Manuel II, certamente por representarem o início e o fim do período mais representativo da nossa história enquanto nação. A independência dá-se a 1294, o Condestável Pedro Álvares Cabral ganhou a Batalha de Aljubarrota em... 1500 e quê? A Restauração foi em 1910 e Portugal entrou na Guerra Mundial em 1939. E tudo isto não tem a mínima importância. Quer dizer, a história é uma seca, não é? Pois, os professores que a dão não a sabem leccionar de forma dinâmica e o conteúdo é coisa de estúpidos e nerds. O ponto essencial deste desinteresse pela história e, em particular, pela História de Portugal, é a formação dos cidadãos. Pouca gente se importa que não saiba nada de história e de dizer que nunca teve jeito para esta disciplina. E assim vamos tendo alunos universitários (não importa a área, porque ninguém deve achar que cultura a mais é só para encher!) que são tapados ao ponto de pensarem que a única coisa que interessa saber são os conteúdos que compõem os respectivos cursos. Saber história é saber cultura. A História de Portugal representa a nossa cultura da melhor maneira e deve servir para nos identificarmos como portugueses. Hoje em dia, com todos os avanços da ciência e da tecnologia, a cultura foi-se perdendo no tempo. Já ninguém quer saber dela e os programas de TV sensacionalistas ocupam agora o tempo livre da população. É muito mais divertido ver famosos a cantar e a dançar para ajudar os desfavorecidos do que promover alguma coisa que cultive o cidadão comum. Eu estou profundamente convencido que tem de haver uma mudança de mentalidades. Ao mesmo tempo que somos bombardeados com estrangeirismos, conteúdos na internet e (todos os tipos de) tecnologia, temos que manter o gosto pela cultura portuguesa. Esta não-cultura está a dizimar a identidade portuguesa, o patriotismo, o orgulho em nós. Há-que começar por algum lado: ler história, nem que seja na wikipedia, já é um bom começo.




Também sugiro ouvir Verdes Anos, de Carlos Paredes, de olhos fechados... (disponível no player deste blog)

CBA